Aprender a Ler e a Escrever
Aprender a Ler e a Escrever de TEBEROSKY, Ana, COLOMER, Teresa. Uma proposta construtivista. Porto Alegre Artmed. 2002.
Aprender a Ler e a Escrever nos dias atuais tem-se encontrado grande dificuldade em saber a maneira carreta, ou mais acertada, de agir devido as grandes (e proveitosas) renovações que estão acontecendo no campo da educação. A grande questão é saber unir teoria, prática e reflexão.
Capítulo 1 – A Língua Escrita
Observando o percurso histórico do surgimento da escrita e de suas variadas representações descritos no livro Aprender a Ler e a Escrever, é possível verificar que a existência desta permitiu o registro da memória coletiva, e uma comunicação maior entre as pessoas, pois as mensagens não dependiam mais da presença física dos interlocutores. Na época posterior a industrialização a concepção de alfabetização é revista a partir das mudanças sociais (até então a alfabetização estava ligada ao ócio e ao âmbito social). Essa demanda social tornou a escolarização obrigatória.
Em nossa sociedade, no decorrer do século XX a língua escrita (alfabetização) se torna tecnologia fundamental, como pré-requisito para qualquer progresso, potencialização dos conhecimentos e acesso aos diferentes usos da mesma.
Estudos realizados concebem a língua como código oral e código escrito. O processo de produção ou reprodução da língua escrita é diferente do uso oral porque implica uma relação entre pensamento e linguagem diferente. A língua escrita permite fixar o discurso oral e convertê-lo em objeto de análise. “A língua escrita seria, em suma, o meio mais eficiente para que um indivíduo chegue a dominar as máximas potencialidades de abstração da linguagem, independentemente de os discursos construídos por ele serem, ao final, orais ou escritos”.
Entende-se a aprendizagem da língua escrita como um domínio linguístico progressivo – não meramente do código gráfico -, nas situações e para as funções que cumpre socialmente.
Saber Escrever
No texto “Aprendices em el domínio de la lengua escrita”, Wells (1987) trabalha o domínio da escrita a partir de quatro níveis coexistentes:
Epistêmico instrumental funcional executivo. Cada nível representa:
O nível executivo insiste na posse do código como tal; diz respeito ao domínio da língua para traduzir a mensagem do código escrito.
Primeiramente, o letramento funcional é essencial para a participação efetiva na sociedade moderna. Além disso, ele engloba não apenas a capacidade de ler e escrever, mas também de compreender e aplicar informações em situações práticas. Consequentemente, este tipo de letramento tem um impacto direto na qualidade de vida e nas oportunidades profissionais dos indivíduos.
Letramento Funcional
Ademais, é importante notar que o letramento funcional vai além da simples decodificação de palavras. Ele envolve, por exemplo, a habilidade de interpretar gráficos em um relatório, preencher formulários corretamente, ou entender as nuances de um contrato. Portanto, seu desenvolvimento deve ser uma prioridade nos sistemas educacionais.
Em primeiro lugar, o letramento instrumental é fundamental para o desenvolvimento acadêmico e profissional. Ele permite que os indivíduos não apenas compreendam, mas também produzam textos de diversos gêneros e complexidades.
Além disso, este tipo de letramento está intimamente ligado à capacidade de pesquisa e organização de informações. Consequentemente, ele é essencial para a formação de pensamento crítico e analítico.
Por outro lado, é importante notar que o letramento instrumental vai além da simples habilidade de leitura e escrita. Ele envolve, por exemplo, a capacidade de sintetizar informações de múltiplas fontes, criar argumentos bem estruturados e adaptar o estilo de escrita para diferentes públicos e propósitos.
Ademais, no contexto da era digital, o letramento instrumental também inclui a habilidade de navegar e utilizar eficientemente as ferramentas de busca e bases de dados online.
No epistêmico usa-se a língua escrita como meio de atuação e transformação sobre o conhecimento: refere-se ao interpretar e avaliar.
Capítulo 2 – O que é ler?
Tradicionalmente pode-se considerar a definição de ler como a capacidade de entender um texto escrito pode parecer simplista, mas não é.
As práticas escolares comumente trazem atividades que partem de pequenos fragmentos de textos, palavras soltas ou letras isoladas para o ensino da leitura. Essa situação revela uma concepção e um desconhecimento: porque ler é um ato de raciocínio.
Através da percepção, da memória de curto e longo prazo (esta segunda que armazena as informações e conhecimentos que temos do mundo) e dos esquemas de conhecimento que as pessoas formam ao longo da vida, a compreensão e a interpretação das informações se tornam possíveis através da leitura. Ler consiste em processar as informações visuais de um texto e as informações não-visuais conhecimentos do leitor. A partir das informações do texto o leitor formula hipóteses, antecipa significados, faz inferências e, no decorrer da leitura, verifica se suas hipóteses iniciais estavam corretas.
Frank Smith – e outros autores – revela que ao explorar um texto através da leitura, o leitor: não precisa oralizar o texto para compreendê-lo; desloca os olhos em saltos percebendo fragmentos do texto – não lemos letra por letra – e percebe globalmente um conjunto de elementos gráficos.
Seguindo esses propósitos alguns cuidados devem ser tomados no trabalho com a compreensão leitora no Livro Aprender a Ler e a Escrever: a organização de atividades com propósitos claros: ler com a finalidade de obter informação ou ler por prazer, ou ainda, para aprender; e os conhecimentos trazidos pelo leitor (prévios) – sobre o texto escrito (conhecimentos paralinguísticos, das relações grafofônicas, morfológicos, sintáticos, semânticos e textuais) e sobre o mundo. Quanto maior o conhecimento do leitor, mais fácil será sua compreensão do texto.
Capítulo 3 – O Ensino e a Aprendizagem da Leitura
De acordo com as concepções que as escolas apresentam do que é ler, é que se configuram o ensino e a aprendizagem da leitura.
Para compreender melhor essa configuração, vamos retomar um pouco da história: Numa concepção tradicional acreditava-se que ler significava realizar correspondência entre os fonemas e os signos, dos mais simples para os mais complexos. A aprendizagem da leitura se dava através da leitura em voz alta, conforme citado no livro Aprender a Ler e a Escrever.
A partir da década de 50 a leitura “passa a ser considerada como um processo psicológico específico, formado pela integração de um conjunto determinado de habilidades e que pode desenvolver-se a partir de um certo grau de maturação de cada uma delas”. Essa concepção trabalha com pré-leitura ou maturação leitora na escola.
Com estudos mais recentes e avanços realizados a leitura “deixou de ser considerada como um processo psicológico específico para incluir-se entre os processos gerais de representação humana da realidade e adotou a perspectiva teórica de um modelo psicolingüístico-cognitivo”.
Considerando essa concepção, a leitura passa a ter outra significação e o modo de ensiná-la também muda. O ensino:
- considera e parte dos conhecimentos dos alunos sobre as funções da leitura;
- permite a comunicação com função real (sendo significativa) trabalha a relação com a língua escrita e seu uso funcional; fomenta a consciência metalingüística; utiliza textos de circulação social, concebidos para leitura, e não textos escolares, o que permite maior significado para os alunos; permite experiências com textos variados para aprender suas características diferenciais; trabalha a leitura sem oralização, a não ser que haja uma função específica (comunicar algo a alguém), diferentemente de como era trabalhado tradicionalmente;
Compreensão Leitora Aprender a Ler
Da mesma forma, deve ser trabalhada nas escolas, a compreensão leitora. Algumas pesquisas mostram que essa compreensão é pouco trabalhada apesar dos alunos lerem com freqüência. Pode-se apontar, como uma das causas dessa realidade, a utilização da leitura – e compreensão – sem propósito real.
A concepção utilizada atualmente considera a aprendizagem significativa. Nessa perspectiva, atividades orientadas a aprender a ler ajudam os alunos na compreensão do texto. Podem ser propostas:
- resumir e sublinhar as idéias principais; ler e construir diagramas e esquemas; o professor oferecer modelos de compreensão; organizar atividades onde o texto apresente erros de diferentes níveis para que os alunos apontem as incoerências; empregar a discussão coletiva (com intervenções do professor);
- auxiliar os alunos a reterem informações a partir de estratégias como antecipar, reler, repassar, etc.
- organizar produções de texto como recurso para a compreensão.
Capítulo 4 – O Planejamento da Leitura na Escola
Esse capítulo do livro Aprender a Ler e a Escrever vai falar um pouco sobre o ensino da leitura nas últimas séries do ensino fundamental.
Acredita-se que a aprendizagem da leitura estende-se por toda a escolaridade, não somente no ensino fundamental, mas também por todo o ensino médio.
Estudos mais recentes e a apreensão dos processos de leitura e compreensão apontam a necessidade de que o ensino da leitura tenha sentido de prática social e cultural, onde os alunos possam ampliar seus conhecimentos comunicativos reais.
Trataremos de duas situações de leitura:
- A primeira que trata das tarefas escolares: a utilização da pedagogia de projeto pode ser uma boa opção pois tira o professor do centro e faz com que os alunos assumam papéis importantes.
- Segunda que trata da leitura literária: pois destina-se a “apreciar o ato de expressão do autor, a desenvolver o imaginário pessoal a partir dessa apreciação e a permitir o reencontro da pessoa consigo mesma em sua interpretação”.
- Na escola existem espaços que podem e devem tornar-se um contexto real de leitura, pois educa a autonomia dos caminhos de acesso à informação – a biblioteca escolar, por exemplo. Nesse sentido, algumas ações são importantes: o conhecimento dos materiais disponíveis na biblioteca, exposição do acervo, a hora do conto, a prática de leitura para criação desse hábito, entre outras. Essencial é propagar sua existência de forma a chamar os alunos e outras pessoas para esse espaço, onde possam criar uma bagagem leitora através de diversos meios.
Aprender a Ler Ampliar as medidas do Repertório
Compreensão do texto:
- Leia e interprete conjuntamente textos que ainda apresentam dificuldade;
- Leia obras completas, dividindo-as em partes e realize: análise de capítulos, reconstrução da época, antecipação de informações, descrições, comparações, retomada do conflito e verificação das hipóteses iniciais;
- Leia textos mais breves focalizando aspectos a trabalhar;
- Relacione o texto com os conhecimentos dos alunos;
- Comente diferentes textos de diferentes áreas do conhecimento;
- Leia e comente um texto para sua compreensão;
- Utilize quadros, esquemas e comparações para ajudar na representação mental da ordenação de informações;
Compreensão da estrutura significativa dos textos:
- Organizar gráficos, esquemas ou quadrinhos para representar o texto
- Produzir sínteses
- Ler notícias e dar-lhes títulos, explicando suas escolhas
- Produzir e comparar resumos
Exercitar as habilidades envolvidas no processo de leitura”:
- Explicitar o que sabe sobre um tema
- Buscar uma informação determinada no texto (jornal, dicionário ou lista telefônica)
- Consultar anúncios ou sessões do cinema
- Buscar uma informação na enciclopédia
- Realizar exercícios de antecipação através da ativação dos conhecimentos prévios dos alunos
- Continuar a escrita de textos (narrativos, histórias em quadrinhos, etc)
- Construir textos em cadeia (onde cada aluno produz uma parte)
- Continuar a escrita de textos informativos
- Continuar a escrita de notícias
- Recompor textos (cortados previamente pelo professor)
- Recompor textos de acordo com sua sequência temporal (três notícias de três dias diferentes, por exemplo)
- Antecipar o conteúdo do texto a partir de indícios gráficos e tipográficos
- Preencher espaços vazios de um texto
- Brincar de jogo da forca
- Realizar exercícios de levantamento e emissão de hipóteses e inferências
Esta lista organiza todas as atividades mencionadas no texto original, facilitando a visualização e compreensão das diferentes estratégias sugeridas para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita.
Gostaria que eu elaborasse mais sobre alguma dessas atividades específicas ou que explorasse como essa lista pode ser utilizada no planejamento de aulas de língua portuguesa?
Capítulo 5 – A Avaliação da Leitura
Ao retomar o que já foi discutido nesse livro Aprender a Ler e a Escrever percebe-se que não é mais possível utilizar uma avaliação nos moldes tradicionais. Ela precisa ser formativa: informa os alunos sobre seus progressos e avanços (por isso eles devem saber o tempo todo o que está sendo observado e que resultado obtiveram), e serve como instrumento para o professor ajustar seu planejamento e métodos de ensino (uma reflexão para a ação). O que comumente vê-se nas escolas é a não clareza do que avaliar e como avaliar. Dessa forma as avaliações não põem em jogo todos os conhecimentos construídos pelos alunos e nem avaliam todos os aspectos apresentados nos outros capítulos.
Alexandre Gali propõe uma referência para as avaliações nas escolas catalãs. A necessidade de separar “os diversos componentes do ato de leitura suscetíveis de serem avaliados de forma diferenciada e distingue cinco: perfeição mecânica, expressão, rapidez, compreensão das palavras e compreensão total”. Dos cinco componentes apresentados, ele considera que devemos avaliar os três últimos.
Gali defende que os alunos devem conhecer claramente os testes de avaliação (as provas devem integrar as tarefas educativas), para que eles reflitam apenas sobre as combinações verbais e o jogo de ideias presente.
Ao tratarmos da avaliação, mesmo que não tenhamos claro qual é seu objetivo principal, devemos respeitar alguns critérios – considerando a nova concepção de leitura e escrita. P.H. Johnson afirma que a avaliação deve objetivar “o grau de integração, inferência e coerência com que o leitor integra a informação textual com a anterior”.
Os Critérios na avaliação
Podemos considerar como critérios importantes na avaliação:
- Atitude emocional no momento da leitura;
- Buscar informações em um determinado texto;
- Solicitar que os alunos verbalizem suas ideias em relação ao texto;
- Verificar a velocidade da leitura e a leitura silenciosa;
- Explorar os conhecimentos prévios dos alunos com questões relacionadas ao texto;
- Solicitar que realizem sínteses, deem títulos a textos;
- Solicitar que apontem em um texto seus erros e incoerências (previamente preparado pelo professor);
O enfoque principal da avaliação é, primordialmente, para que serve? Nesse sentido, portanto, deve-se utilizá-la como instrumento tanto para o professor quanto para o aluno, na medida em que pode ir controlando seus avanços e onde necessita maior atenção para melhorar. Além disso, a avaliação serve como uma ferramenta de feedback contínuo. Consequentemente, ela proporciona uma visão clara do progresso educacional. Ademais, essa abordagem permite ajustes oportunos no processo de ensino-aprendizagem. Assim sendo, a avaliação torna-se um elemento crucial para o desenvolvimento acadêmico. Por outro lado, é importante ressaltar que sua eficácia depende de uma aplicação adequada e criteriosa. Em suma, quando bem utilizada, a avaliação pode ser um catalisador para o crescimento educacional, promovendo uma aprendizagem mais eficaz e direcionada.
Consequentemente, ela permite que ambos, educador e educando, identifiquem áreas de progresso e pontos que requerem aprimoramento. Assim sendo, a avaliação torna-se um processo dinâmico e interativo, não apenas um método de classificação. Por fim, é importante ressaltar que, quando bem utilizada, a avaliação pode ser um catalisador para o crescimento educacional, promovendo uma aprendizagem mais eficaz e direcionada.
Parabéns pelo conteúdo é muito interessante.
Excelente texto!obrigado.
Muito bom,um texto simples e cheio de informações.